segunda-feira, 29 de junho de 2009

O IDENTIFICADOR

Identificar minerais somente com suas propriedade físicas macroscópicas não é uma tarefa para um reles mortal. Além do indivíduo ter um bom conhecimento da mineralogia teórica, é necessário possuir, entre tantos outros atributos, paciência e sorte (ou se preferir, o chulo termo "cagada", às vezes mais adequado). Vendo que a maioria das pessoas não têm essas características de um lendário identificador, observando ameaças de multidões por ter fracassado nessa perigosa empreitada, e prestando serviço às vítimas estudantes da Mineralogia, o Geoboteco elaborou um manual com preciosas informações de como ser O IDENTIFICADOR. Elaborado com base em fatos reais, ele é garantia de sucesso absoluto caso seguidas as instruções corretamente. Confira!


1ª Etapa - A PREPARAÇÃO


Antes de tudo, é aconselhável tomar um banho de sal grosso, ir para a sessão do descarrego ou receber uma água benta. Coma alimentos leves e beba bastante líquido. Garanta seu Dana com antecedência, de preferência o que possuir menos folhas arrancadas. Na verdade, isso vai ser um pouco difícil, já que sua origem remonta o Arqueano, sendo os exemplares disponíveis nada mais nada menos que fósseis não muito bem preservados. Caso tenha rinite ou algo parecido, disponha de centenas de lenços de papel ao seu lado ou uma máscara para se proteger, já que as páginas carregadas de poeira podem ser fatais. Se não achar um manual completo, você se lascou reze à Nossa Senhora da Geologia para o mineral a ser identificado não seja justamente o da folha arrancada...



2ª Etapa - A IDENTIFICAÇÃO

É chegado o grande momento... Repire fundo, feche os olhos, repita para você mesmo e depois para o mineral: "Você não é mais do que eu!" Afinal, o que é um mineral senão um composto químico, sólido, de origem inorgânica e natural, de composição química definida, mas variável dentro de certos limites, com estrutura atômica ordenada e de propriedades físicas e químicas específicas, as quais possibilitam identificá-lo e classificá-lo afim de facilitar seu estudo? (ufa!!!) Sendo assim, mão à obra!

Dê preferência a descrever as propriedades que até uma criança de 5 anos saberia, como a cor. Caso tenha dificuldade, roube a caixa de lápis de cor do seu irmãozinho e leve consigo na identificação. Em seguida, veja o brilho. Se tiver dificuldade também nessa propriedade, você é uma anta mesmo isso é fácil de resolver: para o brilho sedoso, basta observar um cabelo que não seja do tipo pixaim; para o brilho ceroso, deixe acumular bastante cera no ouvido, tire-a e depois observe-a. O próximo passo é a clivagem, um pouco mais difícil de observar. Se não conseguir achar a maldita, não se acanhe em apelar: jogue a desgraça mineral no chão e quebre-o: aí sim poderá observá-la sem maiores problemas. E ainda tem a dureza, que às vezes é um dureza de inferir. Mais uma vez, não se intimide: se for preciso para o seu sucesso, acabe com o vidro que te deram, esfregue o mineral na placa de traço (caso ele tenha um, óbvio) até ele virar pó etc, etc... O ruim da história só vai ser pagar tudo isso depois. Mas o que importa esses ridículos detalhes se você conseguir nomear o mineral?

Outra coisa que pode te ajudar são os ensaios químicos, dependendo das bugigangas materiais que seu laboratório possui. Mas se seu local de trabalho for desprovido desses apetrechos, nada de desespero! Você é um futuro geólogo, e como tal, tem que saber improvisar! Morda, lamba, deguste, cheire, dê seu sangue caso o Dana indique como necessário para alguma reação química, cuspa se não existir água e ela for fundamental na distinção entre um mineral e outro... Enfim, apele! É a sua nota que está em jogo!


3ª Etapa - A CONCLUSÃO

Quando todos os artifícios possíveis e impossíveis se esgotarem, e você tiver certeza (ou não) do que fez, é hora de colocar o nome do mineral. Esse é um momento tenso, portanto, nada de afobação! Num momento de extrema insanidade mental e de desespero imensurável, algumas pessoas chegam ao ponto de perguntar ao mineral qual o seu verdadeiro nome, chegando até a ameacá-lo. Reza a lenda que um estudante, desconfiado que o mineral em mãos era uma calcita, ameaçou jogar ácido clorídrico nela caso a mesma não se entregasse. O carbonato, temendo a inevitável efervescência, confessou ao aluno a sua identidade. Mas isso são meros boatos, e tais estratégias tão despreziveis e irrisórias não são condizentes com você (risos). Logo, "seje ômi" e nomeie o mineral sem medo e com honra!

Feito isso, está tudo pronto. Agora é só esperar o resultado e festejar sua vitória! Viu como não precisa ter medo de uma simples "pedrinha"?

Obs.: O GeoBoteco, um blog sério e reponsável por seus artigos, se isenta de quaisquer possíveis danos, sejam eles físicos, psicológicos, acadêmicos ou financeiros referentes ao uso negligente do presente manual. Utilize-o com moderação. =)




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